Apenas uma em cinco crianças autistas alcançam sucesso na vida adulta: onde estamos falhando?

O que significa “sucesso” na vida adulta para uma pessoa autista?

O termo “sucesso funcional” não se refere apenas a carreira, dinheiro ou diploma. Nos estudos analisados por Mason et al. (2021), ele envolve aspectos como:

  • Capacidade de viver de forma independente ou semi-independente
  • Habilidades de comunicação funcionais
  • Participação em atividades sociais e comunitárias
  • Ocupação (emprego, voluntariado ou estudo)
  • Qualidade de vida percebida

Apesar de variações culturais, esses são marcos esperados de vida adulta. Quando apenas uma minoria alcança esses estágios, precisamos refletir: não são os autistas que estão falhando, é o sistema que não está funcionando para eles.

O que os estudos revelam: pistas a partir da infância e adolescência

Em 2025, a renomada pesquisadora Dra. Catherine Lord publicou, ao lado de Elaine B. Clarke, um estudo longitudinal que aponta um fator-chave para melhores desfechos: habilidades de vida diária desenvolvidas ainda na infância e adolescência. (Clarke & Lord, 2025).

Essas habilidades incluem:

  • Cuidar da higiene pessoal
  • Se vestir sozinho
  • Preparar alimentos simples
  • Compreender instruções
  • Planejar atividades do dia
  • Usar dinheiro ou transporte com supervisão mínima

Segundo o estudo, essas competências preveem melhor autonomia na vida adulta independentemente do QI ou do nível de suporte necessário no TEA.

Onde estamos falhando?

  1. Foco exclusivo em habilidades acadêmicas: Muitas intervenções priorizam alfabetização ou matemática, deixando de lado o ensino de habilidades de vida.
  2. Falta de apoio na transição para a vida adulta: Poucos programas acompanham os autistas após a adolescência. O fim da escola muitas vezes é abrupto e sem alternativas.
  3. Capacitação deficiente de profissionais: Professores, psicólogos e terapeutas nem sempre têm formação específica em TEA na vida adulta.
  4. Estigma e exclusão: A falta de compreensão social e as barreiras no mercado de trabalho impedem que autistas tenham oportunidades reais.
  5. Pouco apoio às famílias: O cuidado sobrecarrega pais e mães, especialmente com o avanço da idade, sem estrutura institucional que ofereça suporte.

Caminhos para mudar esse cenário

  • Incluir habilidades de vida no plano terapêutico desde a infância
  • Desenvolver programas de transição da escola para o trabalho ou vida independente
  • Fortalecer políticas de inclusão para adultos autistas em todas as esferas
  • Formar profissionais de forma continuada com foco em neurodiversidade
  • Apoiar pais e cuidadores com redes de suporte, orientação e descanso

Conclusão

Se uma em cada cinco crianças autistas tem chance de viver uma vida adulta com autonomia e bem-estar, o problema não está no diagnóstico: está no que não estamos oferecendo ao longo do caminho. Precisamos mudar a pergunta de “o que essa criança vai conseguir ser?” para “o que podemos fazer para que ela tenha o direito de ser quem é, com qualidade de vida?”

A neurodiversidade não é uma limitação. O que limita é a falta de oportunidade, preparação e respeito.

 

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