Fatores de Risco Pré-Natais para o Autismo: Descubra o Que a Ciência Já Sabe

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é uma condição complexa, caracterizada por desafios na comunicação social, comportamentos repetitivos e déficits intelectuais variáveis. Com a prevalência global do TEA aumentando – estimada em 10 por 1.000 pessoas, segundo uma revisão sistemática recente – compreender os fatores de risco ambientais pré-natais tornou-se crucial para desenvolver estratégias de prevenção.

Este artigo explora como infecções maternas, obesidade, diabetes gestacional, uso de medicamentos e exposição a poluentes podem influenciar o risco de TEA, com base em evidências científicas atuais, incluindo o estudo de Love et al. (2024) publicado na BMC Medicine[1].

A Interação entre Genética e Ambiente

A etiologia do TEA é multifatorial, envolvendo uma combinação de predisposição genética e exposições ambientais. Fatores pré-natais associados ao ambiente materno, como infecções, doenças metabólicas e medicamentos, podem impactar vias críticas do desenvolvimento fetal, especialmente em indivíduos geneticamente suscetíveis. Esses fatores afetam processos como a neurogênese, o metabolismo mitocondrial e o microbioma intestinal.

Um diagrama esquemático resumindo os fatores de risco ambientais pré-natais para o transtorno do espectro do autismo (TEA) e seus mecanismos potenciais. Da esquerda para a direita, o painel esquerdo descreve a suscetibilidade genética e os fatores de risco ambiental pré-natais, como infecção durante a gravidez, obesidade materna, diabetes, inibidor seletivo da recaptação da serotonina (ISRS) e uso de antibióticos e exposição a substâncias tóxicas. O painel central detalha os mecanismos subjacentes para esses fatores de risco, incluindo inflamação, disfunção mitocondrial, interrupção hormonal, estresse oxidativo e alterações no microbioma intestinal que estão associadas ao desenvolvimento de TEA na prole retratado no painel à direita

Infecções Maternas: Um Risco Ampliado

Infecções virais ou bacterianas durante a gravidez, como rubéola e citomegalovírus, podem aumentar o risco de TEA em até 2,8 vezes, principalmente no primeiro trimestre. A ativação imune materna (MIA) gera respostas inflamatórias que podem atravessar a placenta, interferindo na formação neurológica fetal, por mecanismos como estresse oxidativo e disfunção mitocondrial.

Obesidade e Diabetes Gestacional

Obesidade e DMG aumentam o risco de TEA entre 1,3 e 2 vezes, especialmente quando o diagnóstico é anterior à 26ª semana de gestação. Essas condições estão associadas a inflamação crônica, alterações hormonais e disbiose intestinal, afetando diretamente o desenvolvimento fetal. A combinação entre obesidade e DMG potencializa esses efeitos.

Uso de Medicamentos: ISRS e Antibióticos

O uso de ISRS durante a gestação, especialmente no primeiro trimestre, pode aumentar de 1,5 a 4,5 vezes o risco de TEA. Embora haja viés de indicação, estudos mostram que esses medicamentos alteram os níveis de serotonina e afetam a formação do sistema nervoso fetal.

O uso de antibióticos também está relacionado a risco aumentado de TEA, por sua influência na microbiota intestinal da mãe, que pode afetar a saúde placentária e o sistema imunológico fetal.

Exposição a Poluentes e Metais Pesados

A exposição a ftalatos, poluição do ar e metais como chumbo, mercúrio e cádmio está ligada a estresse oxidativo e alterações epigenéticas. Esses agentes tóxicos podem afetar a expressão de genes envolvidos no desenvolvimento neurológico, especialmente em meninos, sugerindo interação com hormônios sexuais.

Mecanismos Subjacentes

  • Desregulação imunológica: inflamação crônica altera circuitos neurais.
  • Disfunção mitocondrial: afeta produção de energia essencial.
  • Estresse oxidativo: danifica estruturas neurais.
  • Alteracões no microbioma: influenciam a placenta e a imunidade.
  • Mudanças epigenéticas: modificam a expressão de genes-chave.

Esses mecanismos muitas vezes atuam em sinergia, amplificando o risco em indivíduos com predisposição genética.

Resumo dos principais estudos de fatores de risco ambiental materno para TEA e mecanismos subjacentes.
GALT Tecido linfóide associado ao intestino,  IL interleucina, LPS lipopolissacarídeo, ROS espécies reativas de oxigênio, SCFA ácido graxo de cadeia curta, SNPs polimorfismos de nucleotídeo único, TLR receptor toll-like, TNF fator de necrose tumoral 
(a) Indica estudos com animais
(b) Indica estudos humanos
(c) Indica estudos in vitro

Implicações para Prevenção

  • Cuidados pré-natais robustos
  • Uso criterioso de medicamentos
  • Redução de exposição ambiental tóxica
  • Investimentos em pesquisas longitudinais e biomarcadores precoces

Conclusão

O TEA resulta de uma interação complexa entre genética e ambiente. Fatores pré-natais modificáveis devem ser foco de políticas de saúde pública e cuidados personalizados, visando à redução da incidência e ao melhor prognóstico do neurodesenvolvimento infantil.


[1] Love, C., Sominsky, L., O’Hely, M. et al. Prenatal environmental risk factors for autism spectrum disorder and their potential mechanisms. BMC Med 22, 393 (2024). https://doi.org/10.1186/s12916-024-03617-3

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